Ômicron: o momento é de cautela Mauro Assi terça, 11 de janeiro, 2022 Dr. Arlindo Schiesari Jr. No final de dezembro de 2019 foi deflagrada a pandemia de Covid-19, que se iniciou na China e rapidamente se alastrou para o mundo. A doença se caracterizou por ser capaz de causar pneumonias graves e outras complicações sistêmicas, o que resultou em sequelas e óbitos para muitas pessoas. Muitos serviços de saúde entraram em colapso por não conseguirem atender a enorme demanda de pacientes. O coronavírus deixou mais de 5 milhões de mortos em todo o mundo desde o início da pandemia. Estabeleceu-se, portanto, um dos períodos mais turbulentos e desafiadores para toda a humanidade e que perdura até o momento. Por outro lado, cientistas desenvolveram vacinas contra a doença em tempo recorde. E as vacinas, por sua vez, têm mostrado bons resultados. Após o início da vacinação em massa em diversos países, inclusive no Brasil, o número de hospitalizações e de óbitos diminuiu significativamente. E isso precisa ficar bem claro: a vacina nem sempre impede a infecção, mas evita que a grande maioria das pessoas tenha evolução para as formas graves da doença ou óbito. Ou seja, nenhuma vacina tem a capacidade de zerar o risco de contaminação, mas as pessoas com a vacinação completa têm um risco muito menor de hospitalização, de complicações da doença e de morte. Contudo, ainda há um problema que incomoda a comunidade científica: o vírus tem alta capacidade de sofrer mutações e de gerar novas variantes. E qual é a importância disso? Quando o vírus sofre mutações ele pode ganhar maior capacidade de transmissão, pode causar doenças mais graves ou até mesmo “escapar” das vacinas. As variantes P1 e Delta, por exemplo, causaram grande número de internações e óbitos no planeta. Mais recentemente - em 24 de novembro de 2021 - a África do Sul notificou pela primeira vez uma nova variante – a variante Ômicron. Em 29 de dezembro de 2021, ou seja, cerca de um mês após sua identificação, 128 países já tinham registrado a variante Ômicron, incluindo o Brasil. E o que sabemos sobre essa nova variante? De acordo com os pesquisadores, a característica principal da Ômicron é o seu poder de contágio extremamente elevado. Alguns especialistas afirmam que essa é a variante de propagação mais rápida conhecida pela humanidade. Para se ter uma ideia, a taxa de contaminação é superior até mesmo ao vírus do sarampo, que é altamente contagioso. Sem vacinação, um caso de sarampo daria origem a mais 15 casos em apenas 12 dias, enquanto um caso decorrente da variante Ômicron daria origem a 216 infecções no mesmo período. Por outro lado, considerando uma população vacinada ou que já teve Covid-19 estima-se que um caso de Ômicron dê origem a apenas mais três casos no mesmo período, número semelhante ao do vírus ausente de mutações. A percepção atual é que as pessoas vacinadas parecem estar mais protegidas contra as formas graves dessa nova variante. Em geral, as pessoas vacinadas apresentam sintomas gripais leves. Por outro lado, os não vacinados representam entre 80% a 90% dos pacientes graves e mortos pela Ômicron no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Não podemos nos esquecer do que passamos recentemente com a Covid-19: hospitais lotados, falta de insumos e de medicamentos, sistemas de saúde colapsados e, principalmente, perda de vidas. Mesmo que a vacinação no país tenha avançado e que essa nova variante pareça apresentar um risco menor de doença grave ou hospitalização, ainda assim os serviços de saúde continuam sob pressão. Isso porque o número de pessoas sintomáticas tem aumentado rapidamente, em pouco espaço de tempo. E, além do SARS-CoV-2, temos também o vírus Influenza em circulação, que igualmente pode causar quadros graves e sobrecarregar os sistemas de saúde. Ademais, muitos profissionais de saúde voltaram a adoecer, sendo afastados dos seus postos de trabalho, o que pode comprometer a capacidade de atendimento das instituições de saúde. Portanto, o momento é de cautela. Como a variante Ômicron é altamente contagiosa, as medidas de prevenção contra a doença ganham ainda mais importância e não devem ser negligenciadas. Não podemos baixar a guarda. Estamos vivenciando uma nova onda viral e faz-se necessário aplicar tudo o que aprendemos com as ondas anteriores: intensificar o uso de máscaras, higienizar frequentemente as mãos, evitar aglomerações, manter distanciamento de pelo menos um metro entre as pessoas, manter os ambientes bem ventilados e realizar a vacinação completa. Vale ressaltar que tais medidas servem para qualquer variante da doença e servem também para o vírus Influenza. Ao nos protegermos coletivamente, o impacto social da doença diminui. Sim, o vírus está aí e sabemos disso. Agora depende de nós tomarmos a atitude de fazer um ano novo melhor. Dr. Arlindo Schiesari Jr. é médico infectologista, coordenador da CCIH/Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da Fundação Padre Albino.