Biomedicina estuda a ocorrência de Hepatite D em Catanduva Mauro Assi terça, 19 de fevereiro, 2019 Grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo, a hepatite, caracterizada pela inflamação do fígado, vem ao longo dos anos acometendo milhares de pessoas ao redor do planeta. Em Catanduva, a situação não é diferente e preocupa agentes de saúde e pesquisadores, que decidiram aprofundar estudo com o objetivo de avaliar a ocorrência de Hepatite Delta em pacientes portadores de Hepatite B (HBV) na região. O projeto experimental de soroprevalência da Hepatite Delta foi desenvolvido e executado pelo curso de Biomedicina do Centro Universitário Padre Albino/UNIFIPA. A Hepatite D, também chamada de Delta, é causada pelo vírus D (HDV) e depende necessariamente da presença do vírus do tipo B para infectar uma pessoa. Ambas são contraídas por meio de relações sexuais desprotegidas, durante a gestação, parto ou a amamentação, compartilhamento de material para uso de drogas (seringas, agulhas, cachimbos etc.), higiene pessoal (lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, alicates de unha ou outros objetos que furam ou cortam) ou na confecção de tatuagem e colocação de piercings. A coinfecção ou superinfecção pelo vírus tipo “D” é ocorrência muito temida nas áreas onde a Hepatite tipo B é comum, como o caso de Catanduva, São José do Rio Preto e suas respectivas microrregiões, devido às altas taxas de migração, o que faz com que haja grande circulação e disseminação das mais variadas doenças e seus agentes etiológicos. No entanto, a doença ainda permanece sem grandes avaliações, controle e estudos efetivos de prevalência - número de casos da doença em populações específicas. Desta forma, o curso de Biomedicina da UNIFIPA, com a coordenação da Profª Drª Nathália Maciel Maniezzo Stuchi, colaboração da Profª Drª Márcia Maria Costa Nunes Soares, do Instituto Adolfo Lutz, e participação dos alunos Cristiele Tamires Norvete, Graciela Monteiro Peres e Maria Eduarda Zotarelli desenvolveu a pesquisa que teve como objetivo avaliar a ocorrência de Hepatite Delta em pacientes portadores da doença. As avaliações foram feitas por meio de exames de carga viral do HBV realizados pelo Centro de Laboratório Regional Instituto Adolfo Lutz de São José do Rio Preto. “Os pacientes, durante as visitas de rotina ao Ambulatório do Hospital Escola Emílio Carlos, foram devidamente informados sobre o projeto e com a apresentação de concordância em participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após o aceite, os pacientes colaboradores do projeto responderam a um questionário epidemiológico com questões para identificação de fatores e comportamentos de risco, bem como histórico de residência para identificação de possíveis rotas de transmissão”, detalha a pesquisadora e coordenadora do projeto, Profª Drª Nathália Stuchi. De acordo com os dados coletados nas entrevistas realizadas com os pacientes participantes da pesquisa foi possível elencar fatores de risco aos quais aquela população estava exposta. “Ser hemofílico, ter recebido transfusão de sangue, utilizado drogas e bebidas alcoólicas e ter sido submetido a algum tipo de cirurgia são alguns dos fatores de alerta para a contaminação. Também é válido ressaltar que em relação ao uso de drogas houve cerca de 25% de taxa de compartilhamento de materiais, como seringa (cocaína injetável e tubo de cocaína inalada), e quanto a higiene, o uso compartilhado de kit de manicure, seringa de vidro e aparelho de barbear”, informam os pesquisadores. Os pesquisadores ressaltam, também, que a população deste estudo se encontra em área de grande fluxo de migrações como, por exemplo, a vinda de trabalhadores de outras regiões do país para a colheita de cana-de-açúcar e laranja, culturas predominantes na região. Por isso, os pesquisadores vão aguardar o fim das análises para que se tenha certeza quanto à exposição dessa população ao vírus da Hepatite Delta para que se possa tomar medidas cabíveis e adequadas em relação à prevenção e conscientização da população, bem como repassar esses dados às autoridades em saúde competentes. Para a pesquisa foram coletadas amostras de sangue, processadas e armazenadas, para os testes de rotina e também para sorologia de Hepatite Delta. De um total de 76 pacientes convocados para a pesquisa, apenas 73 concordaram (49 homens e 24 mulheres). Dentre os pacientes participantes, 60 já haviam tido suas amostras de sangue coletadas, enquanto 30 foram processadas e outras 30 aguardam a chegada do kit de ELISA para teste de Hepatite Delta. Os pacientes restantes, 13 no total, aguardam a convocação para a coleta do sangue. Os resultados, ainda parciais, apontam a não observação da presença do vírus tipo “D” nas primeiras mostras analisadas. Segundo os pesquisadores, ao final do estudo, após a chegada de novo kit para finalização das análises, “espera-se identificar a ocorrência da Hepatite Delta em pacientes portadores de Hepatite B residentes no Noroeste Paulista e, assim, colaborar para a tomada de medidas preventivas, além de aprimorar o planejamento do tratamento nos serviços de saúde”. O grupo vai redigir artigo científico, que será submetido a uma revista científica indexada, para que os dados fiquem disponíveis também nas bases de busca e possam auxiliar futuros trabalhos relacionados à epidemiologia das hepatites virais e mais especificamente sobre a Hepatite Delta.